quinta-feira, 9 de junho de 2011

SAMADHI


Paramahansa Yogananda
Desfizeram-se os véus de luz e sombra,
Evaporou-se toda bruma de tristeza;
Singrou para longe todo amanhecer de alegria transitória,
Desvaneceu-se a turva miragem dos sentidos.
Amor, ódio,saúde, doença, vida, morte:
Extinguiram-se estas sombras falsas na tela da dualidade.

A tempestade de maya serenou
Pela varinha mágica da intuição profunda.
Presente, passado, futuro já não existem para mim,
Somente o Eu sempre-presente, fluindo em tudo, Eu, em toda parte.
Planetas, estrelas, poeira de constelações, terra,
Erupções vulcânicas de cataclismos do juízo final,
A fornalha modeladora da criação,
Geleiras de silenciosos raio X, dilúvios de elétrons ardentes
Pensamentos de todos os homens, pretéritos, presentes, futuros,
Toda folhinha de grama,eu mesmo, a humanidade;
Cada partícula da poeira universal,
Raiva, ambição, bem mal, salvação, luxúria,
Tudo assimilei, tudo transmutei
no vasto oceano de sangue de meu próprio Ser indiviso.

Júbilo em brasa, freguentemente abanado pela meditação,
cegando meus olhos marejados;
Explodiu em labaredas imortais de bem aventurança,
consumiu minhas lágrimas, meus limites, meu todo.

Tu és Eu; Eu sou Tu,
o conhecer, o Conhecedor. o Conhecido, unificados!
Palpitação tranguila, inenterrupta, paz sempre nova, eternamente viva.
Deleite transcendente a todas as expectativas da imaginação, beatitude
do samadhi!

Nem estado inconsciente,
Nem clorofórmio mental sem regresso voluntário
Samadhi amplia meu reino consciente
Para além dos limites da minha moldura mortal
Até a mais longínqua fronteira da eternidade,
Onde Eu, o mar Cósmico
Observo o pequeno ego flutuando em Mim.

Ouvem-se, dos átomos, murmúrios movediços;
OM, vibração criadora que exterioriza
toda a criação 
A terra escura, montanhas, vales... oh, líquidos em fusão!
Mares fluindo convertem-se em vapores de nebulosas!
OM sopra sobre os vapores, abrindo magníficamente seus véus,
Até que, ao último som do tambor cósmico
Transfundem-se as luzes mais densas em raios eternos
De bem-aventurança que tudo permeia.
Da alegria eu vim, para alegria eu vivo, na sagrada alegria me
disssolvo.

Os quatro véus, sólido, líquido vapor e luz,
Bem aventurados
Eu, em tudo, penetro no Grande EU.
Extintas para sempre as vacilantes,tremeluzentes sombras das
lembranças mortais:

Imaculadoé meu céu mental-abaixo,à frente e bem acima;
Eternidade e Eu, um só raio unido.
Pequenina bolha de riso, eu
Me converti no próprio Mar da Alegria.
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Fonte: Autobiografia de um Iogue, pg 162-163

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